O quarto de infância

O alívio – agora sei-o – deve-se ao facto deste ser o destino que escolho e tão bem me acolhe quando preciso de lamber as feridas. Feridas essas que ganho noutros sítios, longe daqui. A vista da ponte é a materialização da chegada e a representação de um abraço materno que nos conforta e assegura que vai tudo ficar bem no final e que, se algo não está bem, então não é o final. Algo assim.

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Vozes que se ouvem no silêncio

Posso ter sido eu a desaparecer primeiro, mas enquanto sei que para ti tudo aconteceu há uma vida atrás e que provavelmente só te lembras de mim quando me vês de raspão, eu, por outro lado, penso mais vezes do que as que sou capaz de admitir nos porquês que ficaram por explicar e que era tarefa tua perguntar.
Se isso não é uma vitória tua, não sei o que será.

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A linha

Sentou-se, e ali ficou a olhar para o fundo do túnel. Observava aquela escuridão e via nela a única solução para todos os seus males. Não tinha nada a perder. Já não tinha mesmo nada que o prendesse ali. Tinha perdido nesse dia a única pessoa que contava para ele. Com ela desapareceu a última réstia de esperança num futuro. Ela tinha sido a única pessoa que nunca desistira dele, apesar de tudo o que tinha feito. Os roubos, os insultos, as bebedeiras, e por último a violência e a droga.

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