O alívio – agora sei-o – deve-se ao facto deste ser o destino que escolho e tão bem me acolhe quando preciso de lamber as feridas. Feridas essas que ganho noutros sítios, longe daqui. A vista da ponte é a materialização da chegada e a representação de um abraço materno que nos conforta e assegura que vai tudo ficar bem no final e que, se algo não está bem, então não é o final. Algo assim.
Mês: Abril 2016
Os Livros
Ele dizia que cada palavra que eu ouvia dava origem a uma nova história na minha cabeça. Que eu colecionava histórias a partir daquilo que me diziam. Uma sensibilidade, portanto.
Vozes que se ouvem no silêncio
Posso ter sido eu a desaparecer primeiro, mas enquanto sei que para ti tudo aconteceu há uma vida atrás e que provavelmente só te lembras de mim quando me vês de raspão, eu, por outro lado, penso mais vezes do que as que sou capaz de admitir nos porquês que ficaram por explicar e que era tarefa tua perguntar.
Se isso não é uma vitória tua, não sei o que será.
A linha
Sentou-se, e ali ficou a olhar para o fundo do túnel. Observava aquela escuridão e via nela a única solução para todos os seus males. Não tinha nada a perder. Já não tinha mesmo nada que o prendesse ali. Tinha perdido nesse dia a única pessoa que contava para ele. Com ela desapareceu a última réstia de esperança num futuro. Ela tinha sido a única pessoa que nunca desistira dele, apesar de tudo o que tinha feito. Os roubos, os insultos, as bebedeiras, e por último a violência e a droga.
Tema para Abril: Manta de Retalhos
Este mês, o desafio do CPR consiste em unir os retalhos de uma manta, metaforicamente falando. Por “manta”, referimos-nos a um texto e por “retalhos” falamos das frases soltas que vos apresentamos abaixo:
O caminho
Peguei na pequena embalagem dourada da L’oreal, abri e carimbei nos meus lábios o vermelho da paixão. É sexta-feira, o emprego que eu não queria ter fez com que as horas parecessem dias e agora vales-me tu, no teu Fiat 500 branco, o cavalo do príncipe encantado dos novos tempos.