Todos os dias ela sonhava à janela enquanto ele passava. Fato completo, colete e tudo. Todos os dias ela pedia ao Santinho um homem assim. Bonito, educado, responsável, de bem! Com certeza seria um marido amoroso, senão atentemos na lide com a menina. Que outro homem devotava tamanha atenção à sua filha? A sua senhora era uma mulher de sorte. Todos os dias rezava: “Assim, assim meu Santo Antoninho, é que eu queria um pretendente”.
Categoria: semana 2
Desembarque
Pressinto agora que há muito que o coração destes, tal como o meu, reclama o quebrar do jugo tirânico que os oprime, o restabelecer da Ordem e o triunfo da Carta Constitucional. O fim desta guerra brotada de um trono para dois irmãos, mas que nos aparta a todos nós, que me apartou de ti.
Glória dos Mares – O Amor ao compasso da maresia
O capitão foi ao mar por estes dias, a carne infectou-nos a todos num festim de mal estar e vómito. Mas não havia outra solução, era comer ou padecer. E não obstante tenhamos escolhido viver, atrevo afirmar que a divindade tem planos diferentes e que irá transformar o Glória dos Mares, numa sepultura imponente, uma carcaça fantasma.
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Viver numa época que não a minha (felizmente!)
Tinha 5 anos quando fui vendida e vim parar a esta casa. Era uma criança inocente, mal eu sabia a vida de sacrifícios que iria ter. Pela janela do meu quarto, se é que se pode chamar quarto e principalmente janela, vejo os filhos dos meus patrões a correrem pelo jardim da casa e a inveja apodera-se de mim.
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1995
O desafio da minha irmã para este novo caderno é tão simples que começo a achar que ela perdeu o dom dos desafios. São quase dez da noite e estou a ouvir o “Bleach” tão baixinho que preciso de me esforçar o dobro para perceber as letras. A minha irmã quer que eu escreva sobre os meus planos para daqui a 20 anos.
Princípio de um romance
Andei perdido pelas ruas, inebriado pelos movimentos do seu corpo, a tentar encontrar o momento certo e seguro para a abordar. Passei a ponte, escondi-me junto dos vendedores de ouro para que não me visse enquanto apreciava as montras, observei a senhora que a acompanhava para tentar desvendar quem seria aquela nobre e misteriosa dama.
Onde estás, Deus?
Porque o mal está nesta pobre coitada, nota-se logo, põe-lhe a menina dos olhos da cor da íris; tão escura, tão indecifrável. Diz-se até que pega nas coisas com a mão esquerda. Ora, toda a gente sabe que isso é sinal de demónio no corpo – já alguma vez viram o Diabo a fazer as coisas do lado direito?
Liberdade Opressiva
Passear na Baixa de bicicleta em frente ao Tejo, desde a Torre de Belém ao Terreiro do Paço, passando pelo Padrão dos Descobrimentos, ainda há pouco inaugurado.
Necessito de me sentar de frente para a cidade, enquanto leio algum romance chegado de Londres ou dos nossos conterrâneos.
Nobre sentir nas águas do rio
Teus galgos abrem caminho, teus nobres companheiros te acompanham nas selas desses lusitanos cavalos, gamos correm na vossa frente, trovão ressoa, pólvora inunda os ares frescos da tapada, algazarra de homens e cães, júbilos nobres que não alcanço.
Vejo-te passar, senhor, na montada luzente de sempre, fadiga nos olhos, nos braços, na alma, que não me contemplam, que não me enxergam, que não me sentem.
Bela é a noite
Um carrossel de imagens ocuparam a sua mente, lembrando em segundos toda essa noite. Ainda ouvia na cabeça as notas da ‘Schön ist die Nacht’*, que dançara com ele, armada por um belo sorriso conforme lhe fora instruído, depois de Rüd a puxar por uma mão com uma declaração atipicamente juvenil de que “Esta é a minha favorita!”
“Ainda bem que gostas do escuro. Em breve será tudo o que vês”.