À noite todos os gatos são pardos

Tinha jantado sozinha mais uma vez. Sentada no sofá, olhava para o livro sem o ver. As letras eram pequenos montes de tinta negra na página branca. Tentara tirar um sentido do parágrafo que estava a ler mas nada surgia no seu cérebro vazio. Algo tinha de mudar. Cada vez eram mais frequentes aqueles momentos de alienação quase completa. Momentos que acabavam num estado de puro pânico. Pânico de morrer sozinha. Depois de voltar a si, convencia-se que estava a ser dramática, mas a verdade é que algo tinha de mudar. Continue a ler “À noite todos os gatos são pardos”

O código

Faço aqui um aparte para dizer que sempre soube que eras mais bonita do que eu. Mais que bonita, exótica. Isso nunca me perturbou ou causou qualquer tipo de ciúmes. Quando andávamos juntas, a maioria dos rapazes olhava primeiro para ti, mas nunca foi problema, porque tínhamos gostos diferentes, personalidades diferentes, atributos diferentes. Além disso tínhamos o código.

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O momento certo

Nunca era o momento certo. Nunca. Sempre que o tentara, certa de que era a melhor decisão apesar das consequências, o resultado tinha sido nulo. Mentira, nulo não. Tinha sofrido antes, durante e depois. De cada vez que o tentara sem o conseguir, era como se tivesse sido espancada na alma e com isso ela tivesse mirrado mais um pouco, encolhida na vergonha de se expor sem  compreensão.

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